A Voz do Rock
Não consigo dormir, não consigo dormir
até que uma vítima seja confirmada;
uma sombra mantém-me em seu poder,
e busca os ossos que ele deve encontrar;
amontoado numa pilha envolta de
olhos mortos que vêem, olhos mortos que choram,
homens mortos que rastejam do caixão,
pesadelo de assassínio na mente.
O assassínio tem o fantasma da vergonha
que na imundície se deita comigo
e murmura a substância da minha fama.
Com voz de rock, e rock cingido com cinto,
uma sombra grita em meu nome;
ele luta pelo esqueleto da minha escrita;
a minha morte e a dele não foram a mesma,
que feridas tenho já que está ferido?
Tal é este assassínio que o meu próprio
sangue incorpóreo é derramado,
mas a sombra transforma-se em osso,
os pensamentos duplicam-se na minha cabeça;
pelo que ele sabe e eu tenha sabido
é, como um cristal na pedra perdido,
oculto na pele e soterrado na terra,
cego como a visão dos mortos.
Empty Mirror: Gates of Wrath (1947-1952)
Collected Poems 1947-1997
© 2006 Allen Ginsberg Trust
(HarperCollins Publishers e-books)
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa